terça-feira, 15 de março de 2016

Delcídio leva Aécio e Temer para a lama, mas manchetes miram só em Mercadante; Lula fica ainda mais forte!


Resumo da ópera: a oposição é “passageira da agonia” nesse transatlântico pilotado por Moro, Janot e pela Globo. Mercadante levou tiro no peito; Aécio e Temer foram pra lama. E Lula? É cada vez mais necessário no governo. A delação não muda nada em relação a isso.
por Rodrigo Vianna


Delcídio atirou pra todos os lados: sobrou para o tucano Aécio Neves (com a suposta participação nos esquemas de Furnas e as contas secretas da família, que teriam sumido de uma CPI) e  para Michel Temer (que, segundo Delcídio, sustentava a turma da corrupção na Petrobras). Sobrou também para outros líderes do PMDB.

Essa é a grande novidade da delação homologada hoje pelo ministro Teori, no STF: não há seletividade. Teori expôs tudo à luz. E Aécio, enxotado na Paulista pela direita no dia 13, agora é enxotado pelo Delcídio.

Claro que Delcídio também tentou implicar Lula e Dilma. Mas isso não é novidade. Esses dois já estão sob ataque permanente. A novidade é que o moralismo seletivo começa a ceder! PSDB e PMDB se aproximam da guilhotina da Lava-Jato.

Temer, que pretende ser um novo Café Filho (o vice que traiu Vargas em 54) também se enlameou e terá dificuldades em se apresentar como grande capitão do golpe parlamentar, para “unir o Brasil”.

Claro que delação não é fato. Delação é o relato desesperado de alguém que, preso, fala o que a autoridade quer ouvir. A delação de Delcídio não é ponto de chegada, mas ponto de partida. Só investigações sérias podem provar se o que ele diz guarda relação com a realidade.

Claro também que, fora das ilações, há uma grande bomba na delação: a gravação em que o pavão Mercadante aparece conversando com um assessor de Delcídio. A mídia tucana apresentou essa gravação como indício de que Mercadante tentou “comprar o silêncio” de Delcídio.

Não é isso o que aparece na conversa. Sim, é grave que um ministro fale com emissário de um investigado. Grave e burro – diga-se.

Não gosto de Mercadante, acho que Dilma devia aproveitar o episódio e se livrar dele. Mas difícil encontrar no diálogo uma prova de que Mercadante estaria oferecendo grana pro Delcídio pagar advogados e ficar quieto.

É sintomático que a oposição tenha sido até cautelosa diante da bomba de Delcídio. Não se vê grandes arroubos por enquanto. Estão avaliando os fatos. Aécio sumiu do mapa. Só os peixes miúdos da oposição deram as caras – meio desgovernados.

Sintomático também o que ouvi há pouco na Globo News. A apresentadora (fazendo um papel até jornalístico) perguntou ao “repórter” Camarotti: “sobra algum problema pra oposição com essa delação?”.

Ingênuo, achei que o “repórter” fosse falar de Aécio/Furnas. Que nada, vejam só: “a oposição vem a reboque dos acontecimentos, não tem protagonismo, e tem medo da ida de Lula pro governo”.

Camarotti tentou poupar Aécio, mas sem querer entregou tudo.

A oposição é hoje “passageira da agonia” nesse transatlântico pilotado por Moro, Janot e pela Globo.

Resumo da ópera: Mercadante levou tiro no peito; Aécio e Temer foram pra lama. E Lula? É cada vez mais necessário no governo.

A delação não muda nada em relação a isso. Sem Lula, Dilma não se sustenta. Lula pode ajudar a destravar a economia e a segurar o PMDB.

Ah, mas mesmo delatado no STF pelo Delcídio?

Sim.

No meio da tempestade, o capitão mesmo ferido consegue levar o barco a porto seguro. É hora de apostar no capitão.

Até porque do outro lado o jogo está dessarrumado: Aécio enxotado, Alckmin reduzido a São Paulo e olhe lá. Sobram Moro/Bolsonaro. Marina dá uns gritinhos, mas ninguém a leva a sério.

Das sombras, Serra tenta manobrar o seu bote, pra atracar no transatlântico e ocupar a cabine de comando – na calada da noite.

A oposição, entregou o Camarotti, está a reboque, com medo de Lula.

O risco a essa altura é embarcarmos numa República jurídico-midiática, em que as delações sejam a guilhotina de robespierre.

O ex-presidente Lula, talvez, espere as manifestações de sexta, e a formação da comissão do impeachment para tomar sua decisão final. O PMDB – apavorado com delações e agora jogado na lama – é parte do jogo. A outra parte é a rua no dia 18.

O jogo está longe do fim. Não acreditem nas manchetes da Veja e do UOL!

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