sábado, 27 de fevereiro de 2016
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Experiência assentamento Margarida Maria Alves, em Juarez Távora, no Agreste paraibano com algodão orgânico deve ser levada para países do Mercosul.
O assentamento da reforma agrária Margarida Maria Alves, em Juarez Távora que também faz parte da Cidade de alagoa grande, no Agreste paraibano. Assentamento Margarida Maria Alves Também tem ( IPEMA),INSTITUTO PENHA E MARGARIDA DE ALAGOA GRANDE QUE VEM PRESTANDO SERVIÇO ASSISTÊNCIA TÉCNICA EM TRÉS CIDADE DA PARAÍBA ALAGOA GRANDE, JUAREZ TÁVORA E ALAGOINHA, Assentamento Margarida Maria Alves recebeu a visita, nesta quinta-feira (25), de representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no Brasil. A experiência de produção de algodão colorido orgânico na comunidade, localizada a aproximadamente 100 quilômetros de João Pessoa, vai servir de referência para o fortalecimento do setor algodoeiro no Brasil e em outros países-membros e associados do Mercosul.
Em 2015, o grupo formado por nove agricultores do assentamento produziu 9.135 quilos de algodão em rama – como é conhecido o algodão antes do processo de descaroçamento e separação da pluma –, que resultaram em pouco mais de três toneladas de plumas de algodão orgânico colorido da variedade BRS Rubi, desenvolvida pela Embrapa Algodão, em Campina Grande (PB). Com o quilo da pluma comercializado a R$ 11,80, a safra do ano passado rendeu aproximadamente R$ 36 mil ao grupo.
A representante da FAO, a especialista em cooperação técnica entre países em desenvolvimento Juliana Rossetto, passou toda a quinta-feira (25) no assentamento, onde conversou com os agricultores e representantes de órgãos parceiros, e conheceu a estrutura de beneficiamento do algodão. A visita foi acompanhada por técnicos da Embrapa e do Incra e por representante da Prefeitura de Juarez Távora.
Juliana explicou que a organização, em parceria com órgãos como o Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), está dando suporte a instituições dos países cooperantes (Brasil, Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai e Peru) para o desenvolvimento de capacidades e o compartilhamento de conhecimentos, experiências e tecnologias em sistemas sustentáveis de produção, extensão rural, cooperativismo e comercialização solidária para o fortalecimento da cultura do algodão.
“Foi a possibilidade de troca de conhecimentos que nos trouxe para o assentamento Margarida Maria Alves.Vamos promover a aproximação dos atores e o intercâmbio de tecnologias entre entidades governamentais de pesquisa, de assistência técnica e de extensão rural para tratar de temas estratégicos para apoiar os agricultores familiares que produzem algodão e promover as cadeias produtivas, o acesso a mercados, a agregação de valor e a produção sustentável”, afirmou Juliana.
A experiência de produção de algodão orgânico no assentamento vem atraindo as atenções de pesquisadores brasileiros e do exterior. Além da FAO, já visitaram o assentamento representantes da Biofach – considerada a maior feira de orgânicos do mundo, realizada anualmente na Alemanha –, de países do continente africano, de outros estados brasileiros, como o Rio Grande do Norte, o Amazonas e a Bahia, e de instituições de ensino superior, a exemplo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
A Embrapa Algodão, em parcerias com o Ipema, pretende implantar pequenos plantios de algodão orgânico colorido no Assentamento José Horácio, em Alagoa Grande (PB), e em comunidades vizinhas, nos municípios de Mulungu e Mogeiro.
Algodão orgânico
“O algodão orgânico é diferenciado, o que exige um agricultor diferenciado. Existem agricultores que pensam que tudo tem que levar veneno, principalmente o algodão, que é uma das culturas que mais utilizam veneno. As plantações de algodão convencional são responsáveis pelo consumo de cerca de 25% da produção de agrotóxicos do mundo”, afirmou o técnico da Embrapa Dalfran Gonçalves Vale, que também acompanhou a visita da representante da FAO ao assentamento.
O cultivo de algodão colorido orgânico no Assentamento Margarida Maria Alves foi implantado em 1999, um ano após a criação do assentamento, como parte do projeto-piloto Algodão e Cidadania, coordenado pela Rede Nacional de Mobilização Social, em parceria com a Embrapa Algodão.
Desde então, vários órgãos e entidades parceiras têm contribuído para o desenvolvimento produtivo e social da comunidade, como o Incra, o Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida (Coep), a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Paraíba (Emater/PB), o Sebrae, o Projeto Cooperar (Governo do Estado) e entidades como a Assessoria de Grupo Multidisciplinar em Tecnologia e Extensão (Agemte), a ONG Arribaçã e o Instituto Penha e Margarida (Ipema) – contratado pelo Incra para executar serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) em Margarida Maria Alves e em outros 16 assentamentos em quatro municípios paraibanos.
A plantação de algodão colorido orgânico ocupa 26,5 dos 736 hectares do Assentamento Margarida Maria Alves, onde 36 famílias vivem e produzem de forma orgânica o algodão e várias espécies de alimentos.
A técnica em agropecuária Vera Lúcia Pessoa, que integra a equipe do Ipema responsável pelo acompanhamento do assentamento, explicou que a escassez de chuvas foi responsável pela perda de aproximadamente 70% do algodão plantado no Assentamento Margarida Maria Alves em 2015. Em 2013, a colheita, mesmo com a seca, foi de 22,5 toneladas do produto.
Etapas da produção
O plantio do algodão no assentamento é feito em sistema de sequeiro e é consorciado com outras culturas, como o milho, feijão, fava, gergelim, sorgo e coentro, sem o uso de agrotóxicos e de insumos químicos. A diversificação garante o equilíbrio ambiental, o melhor aproveitamento da terra e a diversidade de alimentos na mesa das famílias de Margarida Maria Alves.
Segundo Vera Lúcia, para combater pragas e doenças nas plantas, os agricultores assentados utilizam defensivos naturais produzidos a base de cal virgem, maniçoba in natura e extrato de Nim (Azadirachta indica) – que, segundo a Embrapa, é uma árvore de múltiplo uso pertencente à família das meliáceas com origem provável na Índia e em Mianmar. Restos de outras culturas, urina de vaca e esterco animal são usados como fertilizantes.
O preparo das áreas de plantio segue as recomendações técnicas de conservação do solo e da água, como a ausência do uso de fogo e a construção de curvas de níveis nos terrenos com declives.
As sementes do algodão, armazenadas em um banco de sementes no próprio assentamento, são plantadas em maio ou junho, o período chuvoso na região. A mudança na época do plantio do período de março e abril para os meses de maio e junho contribuiu para afastar, sem nenhum tipo de agrotóxico, o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) – praga que contribuiu para a diminuição gradativa das plantações de algodão branco no Semiárido nordestino, que já foi a maior área de produção algodoeira do país. “Com esta estratégia, o algodoeiro inicia a formação de ‘maçãs’ no período seco e o bicudo não consegue sobreviver a altas temperaturas”, explicou Vera Lúcia.
Ainda segundo a técnica, a multiplicação do bicudo também é impedida pelo maior espaçamento entre as plantas, o que permite uma maior penetração dos raios solares na plantação e, consequentemente, um aumento na temperatura do solo.
A colheita é realizada, segundo Vera Lúcia, com o mínimo de impurezas possível para garantir a qualidade da pluma. O algodão é colhido em sacos de pano de algodão cru, é pesado e tem seu produtor identificado.
A próxima etapa é o beneficiamento do algodão com o uso de uma descaroçadeira com capacidade para beneficiar até duas toneladas de algodão por dia. A máquina, instalada pela Embrapa em uma miniusina que funciona desde 2001 no próprio assentamento, separa a semente da fibra, que segue para as indústrias de fiação.
Após ser separada dos caroços, a pluma de algodão é prensada, enfardada e identificada por código, local de origem, peso e status de certificação. Além de lucrarem com a comercialização da pluma, os agricultores podem vender os caroços excedentes para alimentação animal. A maior parte dos caroços é guardada no banco de sementes para serem plantados no ano seguinte.
Comercialização
Praticamente toda a produção de algodão colorido orgânico do assentamento é vendida à Natural Cotton Color e ao Casulo Arte Natural, empresas ligadas à Associação da Indústria do Vestuário da Paraíba (Aivest-PB), que produzem peças de vestuário, bolsas e acessórios que são exportados para a França, Itália, Espanha, Alemanha, Japão, Estados Unidos e países escandinavos, e levam o nome da Paraíba a exposições nacionais e internacionais.
O algodão é certificado pela Associação de Certificação Instituto Biodinâmico (IBD) e deve receber em breve o selo de certificação orgânica participativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Como o algodão da variedade BRS Rubi já nasce colorido, a fibra dispensa o uso de produtos químicos para tingimento, gerando uma economia de água no processo industrial de acabamento da malha e reduzindo a agressão ao meio ambiente e o risco de alergias.
Após mais de 20 anos de melhoramento genético, a Emprapa Algodão obteve cinco variedades com tonalidades que vão do verde-claro aos marrons claro, escuro e avermelhado. Em breve será lançada uma nova variedade marrom, com melhor qualidade de fibra para a indústria têxtil. Outra linha de pesquisa também busca obter o algodão de cor azul através da biotecnologia para transferir o gene que fornece a cor azul para a fibra do algodão, o que reduziria significativamente o uso de tinta na indústria.
Desenvolvimento social
O algodão colorido orgânico deu aos agricultores do Assentamento Margarida Maria Alves muito mais do que uma fonte de renda. Os ganhos no desenvolvimento social da comunidade se estendem à saúde dos agricultores, à união das famílias e à permanência da juventude no campo, bem como ao aumento da autoestima das famílias assentadas – fatores responsáveis pelo reconhecimento do trabalho desenvolvido no assentamento por órgãos e entidades do Brasil e do exterior.
Cinco dos 26,5 hectares plantados com algodão pertencem à área comunitária do assentamento e são mantidos, em regime de mutirão, pelos assentados, que doam todas as segundas-feiras à lavoura comunitária.
“No nosso assentamento é proibido veneno. Antes da Embrapa, quando a gente trabalhava com veneno e vendia o algodão convencional a atravessadores, quase não havia lucro. Praticamente todo o valor da venda do algodão ia para a compra de venenos e, mesmo assim, as perdas eram grandes”, contou o presidente da associação dos agricultores do assentamento, Luiz Rodrigues da Silva.
“Até os passarinhos voltaram depois que deixamos de usar veneno”, disse a agricultora Maria Rosa de Santana.
Além da miniusina de beneficiamento de algodão, o assentamento já conquistou, com o financiamento de parceiros, um trator e um automóvel, que são utilizados de forma comunitária e são abastecidos com combustível adquirido com o lucro obtido com o algodão plantado na área comunitária. Entre as conquistas da comunidade também se destacam a participação em várias atividades de capacitação, o melhoramento do plantel de carneiros dos assentados, o banco de sementes, barragens subterrâneas, um telecentro e o fortalecimento do associativismo.
Salão de Artesanato da Paraíba
O algodão colorido desenvolvido pela Embrapa e produzido em sistema de cultivo orgânico no interior da Paraíba foi o grande homenageado na 23ª edição do Salão de Artesanato realizado de 15 de dezembro de 2015 a 31 de janeiro de 2016, no Espaço Cultural José Lins do Rego, na capital João Pessoa.
Com o tema “O espaço é do povo e o algodão colorido é paraibano”, pela primeira vez a organização do Programa de Artesanato da Paraíba (PAP) homenageou o algodão que se tornou símbolo regional em lojas de artigos para turistas e, também, ganhou o status de peças de luxo em feiras nacionais e internacionais.
Sobre a FAO
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), é uma organização intergovernamental que conta com 194 Estados-Membros, dois membros associados e uma organização membro, a União Europeia. A sede da FAO fica em Roma, na Itália.
As atividades da FAO têm por objetivo alcançar a segurança alimentar para todos e garantir que as pessoas tenham acesso a alimentos de boa qualidade para que possam levar uma vida ativa e saudável. A organização apoia ações para erradicar a fome, a insegurança alimentar e a desnutrição; erradicar a pobreza e fomentar o progresso econômico e social para todos; bem como gerir e utilizar de forma sustentável os recursos naturais, incluindo a terra, a água, o ar, o clima e os recursos genéticos, em benefício das gerações presentes e futuras.
Com informações da Embrapa Algodão e do Ipema.
Assessoria de Comunicação
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