Incentivo a beijinhos, ao namoro e declarações de amor entre crianças muitas vezes são incentivadas por adultos. No entanto, a psicóloga Clínica e Especialista em Terapia de Família e Casal, Roberta Machado, explica que o comportamento pode se tornar prejudicial aos pequenos no futuro. Baixa auto-estima, depressão e maior vulnerabilidade ao abuso sexual estão entre as principais consequências possíveis.
Psicólogos de todo o país estão, através das redes sociais divulgando a campanha “Criança não namora” . De acordo com a especialista, a iniciativa vem de maneira eficiente tentando frear a sexualização infantil, chamando a atenção dos adultos, sejam eles os pais ou responsáveis para evitar a erotização precoce.
“Os efeitos dessas brincadeiras são extremamente negativos para as crianças. Os pais e adultos que incentivam, embora não saibam, estão levando as crianças a enfrentarem sérios problemas. Crianças existem para brincar e é assim que ela se desenvolve. Tudo o que ocorre nesse período, ou seja, a genética, as experiências de infância, o que ela vê, escuta ou o meio que ela vive, influenciarão de modo muito significativo na vida do adolescente, como ele vai encarar e lidar com a vida, com as emoções e as frustrações”, argumentou, em entrevista.
Ela explica que tais atitudes, mesmo que de brincadeira, não são aceitáveis pelos especialistas, pois podem afetar a vida saudável e os relacionamentos sociais na vida adulta.
De acordo com a neurociência, várias estruturas evoluem até a adolescência, como, por exemplo, os sistemas responsáveis pelas emoções, autocontrole e capacidade de discernimento que só estarão completamente amadurecidos a partir dos 20 anos, idade considerada pela psicologia como ideal para iniciar um relacionamento. O motivo alegado é que esse seria o momento no qual o individuo está desenvolvido para compreender as responsabilidades de uma relação afetiva.
“A criança na verdade brinca de namorar como ela brinca de qualquer outra coisa. Ela não sabe distinguir nem reconhecer o que de fato é uma relação afetiva”, comenta.
No entanto, hoje em dia a maioria dos namoros começa cada vez mais cedo. Assim, Roberta Machado orienta que o ideal é o diálogo franco, mas sempre com atenção, porque a proibição em si não resolve, apenas leva a um namoro às escondidas.
Campanha “Criança Não Namora”
Com várias fotos, a campanha se apresenta com textos que chamam a atenção para os problemas causados pelo incentivo a ‘namoros’ na infância.
“A criança se relaciona com os amiguinhos e eles são simplesmente amigos. Amizade é o nome. Insistir em namoro na infância é adultizar as crianças, incentivar a erotização precoce. A indústria de brinquedos, roupas e cosméticos, já investe tanto na adultização infantil! Não vamos fazer o mesmo. Não é engraçadinho incentivar beijinhos de namoro ou declarações de amor entre as crianças. É nosso papel separar o mundo adulto do mundo infantil. Misturar os dois mundos é cair no erro da erotização precoce. A infância precisa de proteção e não de adultos que afastam a criança daquilo que é próprio pra idade dela. Ajude-nos a conscientizar pais e responsáveis. Compartilhe com seus amigos e familiares.”
Quando a “brincadeira” passa dos limites
De acordo com a psicóloga, alguns comportamentos podem ser exagerados e passam a serem considerados tipos de abuso infantil, chamados pelos especialistas de ofensa sexual.
“Crianças repetem o que os adultos fazem em casa e algumas brincadeiras. Quando não existe uma conversa, a tendência é que qualquer pessoa possa querer brincar também fora dela”, pontuou.
“Infância é momento de brincar, estudar, não namorar”
A estudante de jornalismo, Priscilla Damasceno, é mãe de Mariana, de cinco ano. Ela afirma não ser favorável a nenhuma brincadeira envolvendo ‘namoros entre crianças’ e acredita que o incentivo pode ter consequências como uma gravidez precoce.
“Não sou favorável a este tipo de brincadeira, uma vez que a infância tem que ser lúdica e vivida com pureza. Acredito que cada fase tem sua vivência e a infância é momento de brincar, estudar, não namorar. Talvez a brincadeira que alguns fazem, indiretamente e não intencionalmente, possa incentivar um desenvolvimento precoce de sexualidade, desencadeando uma série de outras consequências”, avalia.
Priscila considera importante a campanha e ressalta que uma boa orientação, desde cedo, ajuda na conscientização da criança.
“Ela já disse que queria casar com um coleguinha da escola porque gostava muito dele. Nós a princípio ficamos surpresos com tamanha perspicácia, mas “cortamos” o assunto dizendo que casamento, namoro são coisas que os adultos fazem, e que quando for adulta também ela vai namorar,casar, ter filhos, netos”, explica.
Por sua vez, a psicóloga Roberta Machado reafirma que o diálogo franco e aberto com as crianças é o melhor caminho. “Nada de brincadeira de namoro para crianças porque namoro é coisa de gente grande”, concluiu a psicóloga.
Da redação com MaisPB
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