Um homem de 27 anos foi autuado por maus-tratos a animais e terá de pagar multa de R$ 19.960 (20 salários mínimos), aplicada pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram). O jovem teria matado uma cadela no domingo (20/1), em “oferenda” para conseguir promoção no trabalho. A autarquia deu prazo de 10 dias para o suspeito apresentar a defesa.
O jovem acabou preso em flagrante na segunda-feira (21/1), na Metropolitana, no Núcleo Bandeirante. Ele estava ao lado da cadela já morta.
Primeiro, o homem alegou que o cão teria sido atropelado. Mas a versão levantou suspeitas porque havia um rastro de sangue que ia do local onde a cadela estava até a casa do suspeito. Depois da abordagem, o acusado entrou na residência acompanhado pelos policiais.
No local, militares encontraram uma tigela com sangue e uma carta: “Peço humildemente que eu seja selecionado no processo seletivo para ocupar nova função em meu trabalho e assim aumentar meu salário, pois, enfrentamos dificuldade financeiras e os gastos mensais têm aumentado.”
Policiais também encontraram a faca usada para matar a cadela, que sofreu um corte no pescoço. O companheiro do jovem, de 30 anos, estava na casa e era suspeito de praticar o crime. Contudo, ele não foi autuado pelo Ibram.
Preso em flagrante na 21ª Delegacia de Polícia (Núcleo Bandeirante), o suspeito não confessou o crime. Todavia, o companheiro dele, que testemunhou os fatos, segundo a polícia, afirmou que havia “sacrificado o cachorro para uma entidade como uma oferenda, pois precisava de dinheiro”.
As informações pesaram na decisão do Ibram, para quem o acusado praticou intencionalmente “ato de crueldade contra o cachorro, provocando dor e sofrimento desnecessários”. Na ocasião, ele foi encontrado em situação “flagrancial de sacrifício”, utilizando método não aprovado, sem indicação veterinária para realização do ato.
Cachorro não é oferenda
Nas religiões de matriz afro-brasileiras, não há o sacrifício de animais domésticos, como garante Pai Ricardo de Odé, de Águas Lindas de Goiás. O candomblecista especifica que os ritos incluem animais consumidos no dia-a-dia, como galinhas.
“Os sacrifícios dentro das religiões acontecem para o nosso próprio consumo. Nós realizamos uma festa e, depois, comemos a carne. Não é parte da nossa cultura consumir animais como cachorros e, portanto, eles não fazem parte de sacrifícios”, afirma.
Dentro da religião há 28 anos, o Pai de Santo frisa que tampouco as entidades aceitam oferendas como estas: “Nunca vi um pedido como esse na minha vida. Quando soube do caso, fiquei chocado. Acredito que se trata de uma pessoa desequilibrada, que nem sequer conhece os princípios ou a essência da nossa religião.”
O candomblecista concorda com a decisão do Ibram. “É um ato de extrema crueldade. A religião é historicamente mal vista pela comunidade, que não conhece de fato os princípios. Atos como estes, ligados erroneamente à nossa cultura, mancham ainda mais a religião”, lamenta Pai Ricardo.
Fonte: Correio Braziliense
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