Contraceptivo masculino:
17/04/2017 - 09:36 hs
Os médicos estão prestes a lançar no mercado um contraceptivo masculino. Mas, em vez de numa grande empresa farmacêutica, a descoberta surgiu numa startup universitária no coração da Índia rural.
Anos de testes em humanos do produto injectável que destrói os espermatozóides estão a chegar ao fim e os investigadores preparam-se para o submeter à aprovação das entidades reguladoras. Os resultados obtidos até agora demonstram que o produto é seguro, eficaz e fácil de usar, mas não tem tido muito sucesso junto das empresas farmacêuticas. Isto causa frustração ao seu inventor, que garante que a sua técnica pode desempenhar um papel crucial em populações que não são favoráveis ao uso de preservativos.
Um novo método contraceptivo masculino tem potencial para conquistar até metade do mercado mundial dos contraceptivos femininos, que representa 10.000 milhões de dólares (9420 milhões de euros), e de obter uma fatia das vendas anuais de preservativos, com um valor 3200 milhões de dólares (3010 milhões de euros). Ambos os mercados são dominados pelos gigantes farmacêuticos Bayer, Pfizer e Merck, segundo estimativas da última grande empresa farmacêutica que explorou esta área.
O procedimento reversível criado na Índia poderá custar cerca de dez dólares (9,42 euros) nos países pobres e pode fornecer aos homens contracepção que dura anos, ultrapassando problemas relacionados com o uso regular dos métodos contraceptivos e evitando os custos continuados associados aos preservativos e à pílula contraceptiva feminina, que costuma ser tomada diariamente.
Também poderia aliviar as 225 milhões de mulheres nos países em vias de desenvolvimento que, segundo a Organização Mundial da Saúde, não obtêm respostas para as suas necessidades contraceptivas. No entanto, até agora, só uma empresa sem fins lucrativos nos Estados Unidos aceitou desenvolver esta tecnologia no estrangeiro.
Para Sujoy Guha, de 76 anos, o engenheiro biomédico que inventou o produto, o desafio é encontrar uma empresa que o queira comercializar. Mas, até agora, as grandes empresas farmacêuticas não têm revelado grande interesse na área da contracepção masculina.
“O facto de as grandes empresas serem dirigidas por homens brancos de classe média com a mesma ideia — de que nunca usariam isto — tem um papel significativo”, afirmou Herjan Coelingh Bennick, o professor de Ginecologia que ajudou a desenvolver os contraceptivos femininos Implanon e Cerazette, quando era director de investigação e desenvolvimento para a saúde da mulher na Organon International, entre 1987 e 2000. “Se estas empresas fossem dirigidas por mulheres, seria totalmente diferente.”
Gel que cria uma barreira
A técnica de Sujoy Guha para inibir a fertilidade masculina recorre a um polímero em gel que é injectado nos canais que transportam espermatozóides no escroto. Este gel, que tem a consistência de chocolate derretido, tem uma carga positiva que age como uma barreira perante os espermatozóides, que têm uma carga negativa, causando-lhes danos na cabeça e na cauda e tornando-os estéreis.
Este tratamento, conhecido como inibição reversível de espermatozóides sob orientação (reversible inhibition of sperm under guidance, ou RISUG), pode ser invertido com uma segunda injecção que destrói o gel, permitindo aos espermatozóides chegarem ao pénis normalmente.
O lançamento esperado do RISUG nos próximos dois anos vai contribuir para o crescimento de 17% até 2021 do mercado indiano de contraceptivos, segundo um relatório do ano passado da Pharmaion Consultants, com sede perto de Nova Deli.
Este procedimento tem uma eficácia de 98% na prevenção da gravidez — praticamente a mesma dos preservativos, se forem sempre usados — e não tem efeitos secundários significativos, segundo R. S. Sharma, director de Biologia Reprodutiva e Saúde Materna no Conselho Indiano de Investigação Médica. Cerca de 540 homens já seguiram o procedimento na Índia e ele continua a evitar gravidezes nas suas companheiras, 13 anos depois do tratamento, contou o cientista.
A submissão este ano às entidades reguladoras pretende que o RISUG seja aprovado como um método contraceptivo permanente. A isto acrescentam-se dados clínicos que apoiam a sua reversibilidade, acrescenta Sharma. A Índia é o país do mundo com mais mulheres casadas que não obtêm resposta às suas necessidades de planeamento familiar e o estigma social e a falta de privacidade nos locais de compra fazem com que o uso do preservativo seja inferior a 6%.
A nível global, os homens têm tendência para ocupar uma posição secundária no que diz respeito à contracepção. Em 2015, em todo o mundo, quase 60% das mulheres que tinham relações conjugais usavam a pílula contraceptiva ou outro tipo de método contraceptivo, segundo um relatório das Nações Unidas. Em contrapartida, só 8% delas recorriam ao uso de preservativo por parte do companheiro. (com informações do Uol)
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